
Antes os gritos de escárnio, agora, meros gemidos de morte.
Há pouco eu estava entre as fileiras, ouvindo os gritos daquele homem que se empunha sobre o exército do Senhor, desafiando alguém com quem pudesse lutar, apostando a excessiva confiança dos que têm certeza da vitória. Certamente o gigante de quase três metros de altura jamais tivera encontrado a derrota, tamanha força e experiência em batalhas, o que fazia suas vitórias serem conseqüências lógicas de sua consistência.
Muita força, no entanto, ele se levantara contra o povo do Senhor dos Exércitos, o povo do Homem de guerra que não deixaria os seus serem humilhados pelos Filisteus, que naquele momento zombavam.
A minha certeza estava no Deus mais forte e mais poderoso que aquele simples homem, que nada seria perante o Senhor. E confiei que eu poderia realmente ser instrumento de Deus humilhando aqueles homens, era a única coisa que eu pensava – "Deus não está contente com esta situação".
Rapidamente pulei adiante da tropa já tirando a primeira pedra do alforge, que cuidadosamente coloquei na funda – poucas seriam minhas chances pelo pouco preparo em batalhas, além dos treinamentos com feras. Qualquer pessoa normal veria as possibilidades e naturalmente fugiria do desafio, o que seria perfeitamente compreensível, vendo que a razão afirmava ser um suicídio, ainda mais na minha loucura, ao enfrenta-lo com pedras nas mãos, só pedras.
Naquele instante o gigante corria em minha direção, mas permaneci esperando, com a funda começando a girar, aguardando o momento certo – a batalha seria breve, ambos sabíamos disso.
O girar da funda parecia soar como um grito ao vento.
Rapidamente lancei a pedra, que afundou na testa no gigante, fazendo-o cair desmaiado. Não perdi a chance, corri em sua direção até alcançar sua espada; tirei de mim toda força quando a desferi contra o pescoço do gigante, cortando-lhe a cabeça.
O sangue jorrou como um rio sobre o chão. E o silêncio da surpresa de todos brevemente foi interrompido pelos gritos do inimigo fugindo desesperado ao ver seu herói envergonhado às mãos de alguém tão pequeno quanto eu. Logo percebi a ordem de ataque dos comandantes.
Em pouco tempo todos os Filisteus estavam mortos, jogados à podridão do campo.
Confesso que o cheiro do sangue quente misturado à terra me atraia a atenção e exprimia em mim um longo grito de Vitória, que se repetiu por muito tempo, enquanto eu desfilava com a pesada cabeça do gigante.
___________________________
Muitos ainda têm se levantado, seus estandartes são o medo que posso ter perante os fatos tão concretos da realidade quotidiana. Contudo, basta eu entender que o desafio do gigante em minha frente, tão real e assustador, é apenas mais uma batalha, das tantas já vencidas do impossível nas mãos do meu Senhor contra a realidade fria dos dias humanos.
(...)
Quanto a mim, permaneço segurando aquela cabeça pesada, ainda sentindo o cheiro forte do sangue que escorre na terra.
Eu venci!
E, olhando os corpos ao chão, penso - "seja quem for o próximo, terá o mesmo fim. Que meus inimigos jamais se esqueçam disso, porque eu não irei".
(Mais batalhas, clique aqui)
[imagem: Caravaggio]
3 comments:
CORAGEM, apenas CORAGEM.
Bravo!
Bravo!
Muito bravo esse moço...he he he
Caio, belo post. Abração amigo. Depois comemos outras daquelas esfirras filistéias !
Abração!
Meu querido Caio, estou um pouco atrasado. Sendo assim quero fazer apenas um pequeno comentário sobre um trecho do post anterior: "A face de Deus, eu posso descrever, a vi bem de perto.
É como um farol que brilha, apaga.
Quando há luz, você vê; quando não há luz, você desespera, porque compreende o quanto precisa dela.
Descobri que não amo a Deus – eu desespero por Ele".
Isto é o que eu chamo de santo desespero.
Graça e paz.
Post a Comment