07 July, 2006

Falhas na Visão


*Dedico este texto a mim mesmo, amblíope.

“Que queres que te faça? Respondeu ele: Senhor, que eu veja”. (Lc 18:41)

Vejo a mim mesmo lá na sala de casa, em frente à TV; criança, sentado no chão, pernas cruzadas, cabeça arqueada e a boca aberta. No fundo, minha mãe gritando: “não fique perto da TV que você vai ficar ‘bi-cego’” – tarde demais. E só percebi que estava enxergando mal quando coloquei óculos pela primeira vez - é assim mesmo, percebemos a falta dos óculos somente quando usamos um. Naquele momento minha mãe falava dos meus olhos, no entanto ficar perto da TV tem outras graves conseqüências, e não só da TV, mas de qualquer instrumento de massificação/conformação.

Quando penso nas minhas dificuldades em ver o mundo a minha volta na realidade que o sucesso exige, não deixo de criticar também as cegueiras mental, espiritual e sentimental na qual vive a nossa quase totalidade das pessoas. Vejo adultos, a sala, a TV, o chão, pernas cruzadas, cabeças arqueadas, bocas abertas – deficientes visuais, comportamentais, espirituais e emocionais.

Voltando ao assunto, talvez pareça exagero, mas atrair alguém para a frente de sua televisão é sim a maior conspiração já promovida contra a raça humana. A intenção clara é distorcer valores fundamentais e doutrinar pessoas a curvarem-se diante dos próprios umbigos, querendo para si a vida daquele(a) galã/ “galinha” – já se imaginou naquele carro? Aquela casa? Aquelas paixões de rasgar as roupas e quebrar os móveis da casa? Enfim... restaurantes caros, roupas sensuais, corpos dourados na praia da tarde de quarta-feira; Adultério, corrupção, “caixa 2”, mentiras e outras insanidades que nos passam à normalidade da vida real, visto que já estão fora das novelas, estão em toda parte. Consideremos sempre a surpreendente criatividade da fome sentimental do ser humano.

Emoção é a chave dos corações da massa. O povo precisa de sentimentos – aqui sentimento confundido com emoção; um manequim-mecânico para elas e uma mulher escultural para eles – e a vida toma o padrão do que vemos na mídia e que, pelo mesmo molde, procuramos ter em nossa realidade. Deixa-se de amar a mulher porque ela não tem aquele corpo/quadril, ou a ele porque não tem a mesma barriga do personagem da TV. Aprendemos a amar os exemplos que nos foram incutidos como ideal, e assim nascem nossas escolhas.

Lembro que o sentimento segue aquilo que amamos, como disse Olavo de Carvalho, e “se amamos o que é verdadeiro, bom e belo, ele nos conduzirá para lá. O problema, portanto, não é sentir, mas amar as coisas certas. Do mesmo modo, o pensamento não é guia de si próprio, mas se deixa levar pelos amores que temos. Sentir ou conhecer, nenhum dos dois é um guia confiável. Antes de poder seguir qualquer dos dois, é preciso aprender a escolher os objetos de amor -- e o critério dessa escolha é: Quais são as coisas que, se isto dependesse de mim, deveriam durar para sempre? Há coisas que são boas por alguns instantes, outras por algum tempo. Só algumas para sempre”.

A pergunta que fica é: como você está vendo?
Pois o que você vê, em sentido amplo, está ligado às emoções que você busca (à sede que tem), e estas lhe conduzirão aos seus pensamentos, ao conhecimento, escolhas e amores.

O problema está na contradição entre o que se procura viver e a maneira como ainda enxergamos o mundo a nossa volta - enquanto lutarmos para viver uma vida cristã forçando os olhos para conseguir ver hábitos de costume no mundo, teremos graves defeitos visuais, distorções e canseiras na Verdadeira Visão - assim poderíamos observar miopias, hipermetropías e astigmatismos em diversos níveis, do espiritual ao sentimental.

Hoje eu caminho sabendo que tudo a minha volta está deturpado pela minha dificuldade visual, por isso ando devagar, cuidando para não cair em meus próprios amores.
Senhor, que eu veja!...

“Pode porventura um cego guiar outro cego? não cairão ambos no barranco?” – Lc 6:39

05 July, 2006

Neófito, cuidado com os bons!

Muitos irão sorrir para você, poucos se alegrarão contigo.
Muitos lhe apertarão a mão, quase ninguém irá caminhar ao seu lado.
Todos serão bondosos, mas poucos serão bons.
Daqueles que falarão de Deus, uma ínfima parte saberá quem Ele é.
Seja como a criança: tenha medo de santos. São estátuas assombrosas.