04 May, 2005

TEMPOS DE BATALHAS

Repostando: Pensar que escrevi este texto há mais de cinco anos (05/05/2005), parece que foi ontem, porque jamais me esqueci da mensagem.
Boa leitura:

De um lado a outro o que se vê é a muralha que se põe em nosso caminho. Tantos outros tentaram lançar força, e no auge da tantas batalhas, ela permanece lá, continuamente erguida em armações de pedras e sangue, intransponível, segura de si contra todos a quem fez chorar, no pó da frustração, a vergonhosa derrota da coragem.

Quase nada se vê do outro lado, apenas a sombra obscura do que teremos ao finalmente transpassa-la. Leite? Mel? Sim, e tudo mais prometido. Tudo que tenho é a certeza destas coisas. Além disso, em meus olhos continua um olhar, não no muro, mas nestas promessas, que ainda ecoam nos meus ouvidos, promessas de vitórias, de uma terra de liberdade e crescimento.

Eu aproveito para sentir cada instante diante daquela parede, deixo o tempo fluir ainda medindo cada centrimetro e cada detalhe de tamanha magnitude a minha frente, no entanto, permaneço imóvel ainda deixando o peso da espada acostada ao chão.

Em minha mente, ainda ouço a voz do meu Comandante. Ela traz uma estratégia detalhada para nossa então iminente missiva – “sete voltas dareis em torno da muralha, no sétimo dia então tocarás as cornetas e aos gritos dos soldados derrubarei as muralhas”. Desta maneira eu procuro me concentrar apenas naquela voz e procuro confiar na dádiva pessoal de ainda estar vivo e disposto a cumprir as ordens do meu Senhor.

Ao mesmo tempo, tento deixar de pensar nos tantos outros que investiram armas bem mais eficientes que as nossas e acabaram morrendo aos pés de Jericó. Quantos já caíram em tentativas fracassadas de suas próprias mãos em derrubar este muro? Todos foram derrotados pela própria coragem e porque não dizer, pela própria ousadia.

Assim, revelo-me a entender que um homem verdadeiramente corajoso sabe ouvir a voz de seu Comandante e entrega-se a morte, se necessário, para cumprir a ordem proferida, e luta para manter-se fiel aos detalhes minuciosos que lhe foram confiados. Um homem de guerra não tem valor em si mesmo, não luta por si, mas para um povo, na força de seu Comandante.

Meu silêncio repentinamente é quebrado pela chegada dos últimos homens que acompanhavam a Arca do Senhor em torno da muralha, conforme o plano de ação ordenado. Sei que a minha próxima ordem precisa ser clara e firme, apesar de um tanto extraordinária, mas eu sei da confiança do povo já acostumado a acontecimentos inusitados e os soldados estão tão confiantes que já aguardam posição para o ataque além da muralha. Um comandante qualquer acharia tudo loucura, e cá estamos nós, prontos para esperar o agir Milagroso de Deus tocando cada pedra do muro a nossa frente.

Também percebo que próximos a mim posicionam-se os sacerdotes escolhidos para tal investida. A postura deles parece a de verdadeiros heróis de batalhas, e realmente têm sido. Logo me pergunto, que outro povo teria os sacerdotes como heróis de batalhas? Com certeza meu Senhor é extravagante, pois serão eles os instrumentos a derrubar as muralhas. É realmente interessante pensar que todos os braços fortes que agiram contra aquela muralha haviam sido quebrados, mas aqueles braços sacerdotais serão os braços que derrubarão, em Deus, aquela altiva muralha.

Aos poucos, e em uníssono, ouvem-se os primeiros toques que se somam e mostram-se ensurdecedores. Tão logo ouvimos os toques das trombetas, sinto o calor de uma energia superior se movendo dentro de mim, como se eu fosse realmente explodir, até que decido liberar tamanha energia com um primeiro grito, que se é seguido de milhares iguais aos meus. Abaixo dos nossos pés sentimos todos o chão tremer – é a queda da muralha, que parece uma avalanche de pedras sobre a cidade.

Aos poucos vejo uma nuvem de poeira subindo pelo solo machucado pelas pedras que caem. Rapidamente percebo - a muralha estava vencida ao chão, envergonhada em si mesma, humilhada perante o meu Senhor, o Senhor dos Exércitos que abriu passagem ao seu povo, que num brado de ataque, avança sobre a muralha caída a finalizar sua Vitória. Novamente eu vejo a Glória de Deus sobre este povo confiado a minha mão, e percebo que realmente é um povo Glorioso como aquele que os escolheu. Certamente, em sua história, Jamais uma muralha ou dificuldade qualquer será suficientemente intransponível para eles. Simplesmente sei disso.