17 November, 2006

Aos meus inimigos

Além do barulho do vento, trazendo o cheiro forte de sangue, ouço os gemidos distantes daqueles que provocaram o Senhor dos Exércitos. Antes os gritos de escárnio, agora, meros gemidos de morte.
Há pouco eu estava entre as fileiras, ouvindo os gritos daquele homem que se empunha sobre o exército do Senhor, desafiando alguém com quem pudesse lutar, apostando a excessiva confiança dos que têm certeza da vitória. Certamente o gigante de quase três metros de altura jamais tivera encontrado a derrota, tamanha força e experiência em batalhas, o que fazia de suas vitórias conseqüências lógicas de sua consistência.
Muita força, no entanto, ele se levantara contra o povo do Senhor dos Exércitos, o povo do Homem de guerra que não deixaria seu povo ser humilhado pelos Filisteus que naquele momento zombavam.
A minha certeza estava no Deus mais forte e mais poderoso que aquele simples homem, que nada seria perante o Senhor. E confiei que eu poderia realmente ser instrumento de Deus humilhando a aqueles homens, era a única coisa que eu pensava – Deus não está contente com aquela situação.
Rapidamente pulei adiante da tropa já tirando a primeira pedra do alforge, que cuidadosamente coloquei na funda – poucas seriam minhas chances, sem nenhum preparo de batalhas, além dos treinamentos com feras. Qualquer pessoa normal veria as possibilidades e naturalmente fugiria do desafio, sendo perfeitamente compreensível vendo que a razão afirmava ser um suicídio, ainda mais na minha loucura, ao enfrenta-lo com pedras na mão, só pedras.
O gigante corria em minha direção, mas eu o olhava com a funda girando, calmo, esperando o momento certo – a batalha seria breve, ambos sabíamos disso.
O girar da funda parecia soar como um grito ao vento. Rapidamente lancei a pedra, que
afundou na testa no gigante, fazendo-o cair desmaiado. Não perdi a chance, corri em sua direção até alcançar sua espada, tirei de mim toda força quando a desferi contra o pescoço do gigante, cortando-lhe a cabeça.
O sangue jorrou como um rio sobre o chão. E o silêncio da surpresa de todos brevemente foi interrompido pelos gritos do inimigo fugindo desesperado ao ver seu herói envergonhado às mãos de alguém tão pequeno quanto eu. Logo percebi a ordem de ataque dos comandantes.
Em pouco tempo todos os Filisteus estavam mortos, jogados à podridão do campo.
Confesso que o cheiro do sangue quente misturado à terra me atraia a atenção e exprimia em mim um longo grito de Vitória, que se repetiu por muito tempo, enquanto eu desfilava com a pesada cabeça do gigante.
Muitos ainda têm se levantado, seus estandartes são o medo que podemos ter perante os fatos tão naturais da realidade quotidiana. Basta eu entender que o desfio do gigante em minha frente, tão real e assustador, é apenas mais uma batalha, das tantas já vencidas do impossível contra real.
Quanto a mim, permaneço segurando aquela cabeça pesada, ainda sentindo o cheiro forte do sangue que escorre na terra.
Eu venci! E olhando os corpos ao chão penso - seja quem for o próximo, terá o mesmo fim. Que meus inimigos jamais se esqueçam disso, porque eu não irei.

08 November, 2006

Caçadores de Deus

Quanto a busca de Deus, deveríamos percebe-lo como um Ser muito superior que de muitas formas tenta se comunicar conosco, alguém tão inimaginável em tamanho e poder que sente dificuldades de comunicação com seres tão pequenos e ignorantes, nós.

Vejo Deus procurando formas de se aproximar sem que venhamos a nos assustar, de nos falar o que pensa sem que nos percamos. Alguém que gostaria de nos contar como fez o universo e como foi seu primeiro “dia” na criação, que gostaria de falar sobre como nos viu pela primeira vez lá no ventre de nossas mães, e sonhou – sendo que, aliás, momentos de um todo que Ele contempla neste exato momento; passado, presente e futuro; Ele ainda me vê criança e também já o velho que serei um dia.

Deus certamente gostaria de falar sobre tantas coisas de tudo o que sabe sobre nós, sobre o que está para acontecer, mas de que adiantaria, não entenderíamos uma vírgula, nem sua voz compreenderíamos – a Bíblia está forrada de momentos em que Deus tentou nos comunicar, mas em todos o frustramos.

"Mas o meu povo não ouviu a minha Voz, e Israel não me quis. Pelo que Eu os entreguei à obstinação dos seus corações (...) Oxalá me escutasse o meu povo! (...) Em breve eu abateria seus inimigos e voltaria minha mão contra seus adversários (...) Eu te sustentaria com o trigo mais fino, e com o mel saído da rocha eu te saciaria."
Salmos 81:11 - 16.

Pensando assim, compreendo que não somos nós os Caçadores de Deus, e sim a caça - desejo dEle.